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Como eu desenvolvo a habilidade de uma melhor escrita?

4 minutos de leitura
Jan 22, 2024 4:30:00 PM

Entenda seu público, conheça sua audiência, leve em conta o que você precisa transmitir e para quem.

“Eden, como eu desenvolvo a habilidade de uma melhor escrita?”. Escrevendo e lendo muito. Pronto. Está dito. É, é isso. Acabou. Pode ir fazer outra coisa. Sério. Vai lá.

Ainda por aqui? É, você deve ser daquele tipo de gente que não se conforma com respostas curtas, mas, nesse caso, até devia. Olha, a escrita é uma habilidade que se desenvolve com prática, quanto mais se escreve, melhor se escreve. E para escrever é preciso ler. E ler muito. Diferentes estilos, diferentes autores. Até para poder criar referências, afinal o “escrever bem” também tem relação com gosto pessoal e não apenas com técnica. 

Veja só, Tolkien, idolatrado por milhões de pessoas, tem, para muitos, uma escrita absurdamente chata por conta de sua narrativa exageradamente detalhada. “O sol nasceu no horizonte, anunciando um novo dia” torna-se “o céu, até então negro como a mais pura obsidiana, assume tons carmins, preenchendo a aurora de vida e energia enquanto os primeiros feixes de luz solar despontam por trás de altas montanhas, com seus cumes cobertos de neve ancestral, trazendo consigo um perfume adocicado de terra, grama e orvalho e a esperança de um novo dia”. Eu chamo isso de "caminhão de melancia”. É a mesma coisa, só que o segundo é mais chato. É gosto! Há quem goste de ler Saramago, oras. Nada contra, até tenho amigos que gostam.

Ler e escrever muito ajudam a melhorar a técnica, a gramática, definir um estilo próprio ou aprender a navegar entre diversos diferentes. 

E quem sou eu para dar essa dica? Sou o cara que meteu a palavra PICA em um título (é, uma referência a giromba mesmo) - ousado o sujeito - e durante semanas esteve na frente de John Green como produtor de conteúdo mais lido do Medium. 3 milhões de leitores no Medium e 2 milhões de leitores no Linkedin para um texto com o título “Essa pica também é minha”. Dá pra tu? E isso muito antes dos livros de auto-ajuda com Foda na capa virarem modinha. Sou hipster. Lembro que quando meus textos começaram a bombar, recebi um monte de contato de executivos me pedindo aulas de escrita ou que eu atuasse como escritor fantasma para seus textos no Linkedin. Dei risada, claro.

Eu tenho meu estilo, pessoal, meu mesmo, de Eden. Ele é assim, jogado, meio conversado, informal, mas ao mesmo tempo repleto de hífens, vírgulas, vocativos e apostos. Cadenciado, ritmado e cheio de malemolência, usando linguagem simples, quase sempre divertida, sempre focada no meu interlocutor - a quem costumo abordar com perguntas durante a narrativa. Mas quando preciso posso assumir um tom mais formal ou técnico, de acordo com a necessidade. Eu diria que, no meu caso, minha escrita é reflexo de minha personalidade, mas apenas em parte. Não dá para ser eu o tempo todo - e se você me conhece terá que concordar.

Então vai aqui outra dica, uma que eu ignoro com muita frequência: escrever bem não é escrever muito e nem escrever difícil (essa primeira parte eu costumo ignorar, confesso). Quando se trata de redação publicitária, por exemplo, costumamos levar a sério a máxima de que “escrever é a arte de cortar palavras” - como dizem que teria dito Carlos Drummond de Andrade. Ser objetivo e ainda assim eficiente é mais importante do que escrever de forma floreada, acredite.

Então, na sequência, vem outra dica: não há como escrever bem sem escrever certo. Se você não está escrevendo como produção artística não há desculpa para se ignorar as regras básicas da escrita. Saber a diferença entre porquês, saber onde usar mais e mas e acertar a concordância verbal são o mínimo, mas ainda assim, minha nossa… vocês não fazem ideia dos absurdos que já li em e-mails, textos e documentos de “gente importante”. Já respondi um e-mail com um “mim não conjuga verbo, cacique Touro Sentado” - perdi o cliente - e fui expulso de um grupo de WhatsApp após explicar que “cu não leva acento, assento que leva cu”. O erro grosseiro, quando vem de uma pessoa que deveria ter educação para não cometê-lo, dói. Eu passei a me policiar mais quando tive Gal Barradas como minha CEO. Os olhos dela são atraídos pelo mais singelo escorregão gramatical e, por mais que sua educação tente impedir, transborda em sua face a dor de ver um absurdo incrustado em um texto. Acredite, escrever bem, ou melhor, escrever certo, pode ser um diferencial para sua carreira. Mas não exagere, não dê uma de Michel Temer. O excesso deixa você pedante e cafona. E, quando necessário, quebre as regras. Elas existem para isso também.

E temos mais uma - “Ah, Eden, o texto não podia ser resumido a uma linha?”. Sim, faça o que digo, não o que faço, oras. Você sempre pode parar de ler. Hunf.

Entenda seu público, conheça sua audiência, leve em conta o que você precisa transmitir e para quem. Esse é um papo muito técnico, poderia se tornar um curso, não dá para explorar demais o tema, mas não dá para deixar de citá-lo. Não faz sentido usar uma montanha de termos em inglês para uma audiência que não irá entendê-los. Você não irá deixar o texto mais inteligente, apenas reduzirá a capacidade do leitor de assimilá-lo. Se o RH de uma empresa vai escrever um texto para os colaboradores precisa adequar esse texto a audiência e ao objetivo. Uma escrita menos formal pode fazer com que o texto torne-se mais gostoso de ler, mais próximo da realidade do público, gerando maior adesão e melhor entendimento. Mas talvez um texto informal não seja o ideal para transmitir uma mensagem que traz mais urgência e seriedade. Público mais jovem? Linguagem mais jovem, lógico. Trazer palavras, locais e referências daquele público para um determinado texto também funciona bem. Comediantes fazem muito isso, em cada show eles adicionam um tempero local, para gerar identificação.

E existem muitas técnicas de escrita vinculadas ao objetivo. Como começar o texto. Como terminar. Frase de efeito. Ganchos e gatilhos. Call to actions. Não apenas para textos curtos, afinal temos aí a Jornada do Herói, uma estrutura de storytelling que sustenta algumas obras que vocês certamente são fãs, que vão de Star Wars à Indiana Jones. Vale muito a pena dar uma lida sobre ela, se nunca ouviu falar irá se divertir identificando sua influência em diversas obras, como é o caso de Harry Potter. 

 

Mas antes de se apegar à técnica é preciso cuidar do básico.

Ler e escrever. Escrever e ler. Assim, em looping.

Descubra seu estilo, encontre a escrita mais confortável.

Libere-se das regras, mas mantenha-se próximo a elas.

Explore diferentes temas e estilos.

Explore diferentes públicos.

E divirta-se, você não faz isso para viver.

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