"Employer Branding" demais pode matar a sua marca e você nem imagina o porquê...
Umas semanas atrás, começou a circular pela rede uma tal planilha com verdadeiras declarações de ódio (sim, porque se existem declarações de amor, o que estava apresentado naquela planilha era muito próximo de declarações de ódio) de vários funcionários por suas empresas e ex empresas. Mais ou menos ao mesmo tempo, uma plataforma bem grande de avaliações de experiência de emprego começou a divulgar, de forma retroativa, os nomes dos colaboradores que tinham avaliado seus empregadores - de forma sigilosa, originalmente - e foi mais um show de horrores.
Claro que, como tudo nesse mundo pós moderno do Século XXI, isso polarizou as opiniões... De um lado, gente dizendo "tem mais é que criticar, mesmo, não devemos aceitar calados", do outro, quem pulou na discussão com um papo de "os incomodados que se retirem... se você está infeliz, peça para sair".
Eu, velha que sou, estou no meio do caminho entre esses dois extremos, mas, talvez por ter mantido a minha mente livre de pular em defesa de qualquer um dos argumentos, não pude deixar de notar um fato, digamos, curioso...
Em ambos os casos, vemos reclamações terríveis de pessoas sobre empresas que têm premiação e "notório reconhecimento" por serem excelentes lugares para se trabalhar.
Claro que eu não pude deixar de fazer algumas conexões mentais e refletir sobre as causas deste fenômeno (se você é novo por aqui, muito prazer, meu nome é Paula e meu super poder é fazer conexões malucas que, depois de alguma explicação, eu juro que vão fazer sentido para você também e até parecerão meio óbvias), afinal, identificar e conectar obviedades é o meu hobbies favorito...
O que existe em comum entre essas empresas que são lugares "excelentes para se trabalhar" e sofrem críticas muito duras de seus trabalhadores é o que qualificamos na minha terra como "goga".
Para você que não sabe, goga é "qualidade daquele que demonstra vaidade, jactância", ou "atitude de quem conta bravatas; fanfarronice", ou seja, a capacidade de falar muito mais do que faz. Acho que, a partir deste ponto, as coisas estão começando a clarear na sua mente, mas, em tempos de rede social, em que as pessoas lêem apenas a manchete e se posicionam como experts no assunto, talvez o óbvio precise ser dito.
O hábito de falar mais do que fazer é o que levou essas empresas à situação dicotômica de acumular prêmios e nomeações a prêmios de boa marca empregadora, enquanto colecionam "bad reviews" de seus funcionários e ex-funcionários.
Quando pensamos na construção de algo (neste caso, uma marca), a fundação tem que ser sólida e, não, a gente não precisa de um diploma em engenharia civil para entender isso, basta ter jogado Jenga alguma vez na vida... O problema que essas marcas encontram é que, cuidar da da fundação dá bastante trabalho.
Cuidar da fundação requer dizer não a muitos candidatos que, no papel, parecem muito bons, dispensar pessoas que têm histórico de entregas excelentes em outros lugares, porque algumas dessas pessoas não se adequam à cultura organizacional...
Aliás, cuidar da base, começa por identificar o tipo de cultura que existe na sua organização, porque, amiguinhos, cultura não é algo que se cria por força de decreto, e adequar suas contratações a essa cultura ou fazer mudanças estruturais na equipe para conseguir mudar a cultura da organização!
É cuidado com a fundação, também, entender cada pessoa da organização e saber como elas se encaixam nesse pequeno extrato social que é a empresa... Qual o papel de cada um? E, aqui, eu não estou falando do papel técnico, esse é o mais fácil de definir! Estamos pensando os papéis sociais das pessoas dentro da estrutura organizacional e da cultura.
Entendeu que nada disso tem, necessariamente, o glamour de vir aqui no LinkedIn e gritar a plenos pulmões que ganhamos uma premiação ABC ou um selo XPTO? Nada disso enche o peito do Presidente da empresa de orgulho, porque ele não pode exibir nada disso no perfil dele... isso é, apenas, cuidado com as vidas que estão envolvidas na construção da sua empresa, não te dá status, não é palanque.
Por conta de tudo isso, os profissionais que querem fazer todo esse trabalho de base (sim, existem pessoas loucas o suficiente neste mundo que acreditam que podem fazer tudo isso e impactar vidas de forma significativa), seguem sem conseguir orçamentos e ferramentas que os ajudem, então, sentem que precisam se abraçar com as consultorias que os ajudam a conseguir os prêmios, torcendo para, com o alcance do prêmio, conseguir a liberação do orçamento para, então, começar a trabalhar a base.
O problema de não cuidar da base é que, hoje em dia, mesmo a base da pirâmide na sua organização tem voz e fala para o mundo todo ouvir... Você pode até não saber, mas, eles já faziam isso antes (mas, calma lá que isso é papo para outro dia), mas, hoje, eles conseguem facilmente falar para fora e isso derruba muito castelo de cartas!
Em tempos de mídia social e "fake it 'till you make it", cuidar da essência é quase como um ato de rebeldia, uma quebra de paradigmas ousada, que vai ser feita por poucos. Do lado de cá, eu trabalho para aumentar a capacidade destes poucos de fazerem mais com menos e para que eles não se sintam tão sozinhos...
Se você chegou até aqui, eu te proponho que leve esse tipo de discussão para a sua empresa, para as suas equipes. Que você tente conhecer seus colegas de trabalho um pouco melhor e pense em como você se encaixa nesse microcosmos social que é a empresa onde você trabalha hoje. Acredite, vale a pena!
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